segunda-feira, 15 de julho de 2013

Vivência com médicos frente a proposta do Ato Médico



Nasci com cardiopatia e faço acompanhamento cardiológico desde a infância. A princípio, no hospital da PUC em Campinas/SP. E por ser um caso que necessitava de cirurgia, aos oito anos de idade fui encaminhada ao InCor. As duas cirurgias em que passei foram realizadas neste e nunca fui desrespeitada por um médico em nenhum hospital.
Eu fico pensando, onde se encontram os médicos desumanos que o ministro da saúde (Alexandre Padilha) disse haver? Defendendo a proposta dos estudantes de medicina trabalhar obrigatoriamente dois anos a mais para o SUS. E afirmando assim, que estes se tornarão mais humanos.
Como eu já relatei, fiz duas cirurgias cardíacas. Na segunda, eu fiquei 59 dias internada e fui muito bem atendida pelos médicos do InCor. A maioria dos que acompanhavam meu caso eram residentes. Ou seja, recém-formados e muito bem preparados. Um deles, Dr. Gilson Filho, hoje é um grande mestre na faculdade de medicina na Bahia. Através de várias postagens no facebook dele, percebo a admiração e respeito que os alunos têm por ele. E sem sombra de dúvida, a formação que recebeu foi excelente, é um profissional e pessoa exemplar.
O meu caso era extremamente grave, eu tinha um aneurisma de aorta ascendente de 6,5 cm. Os médicos alertavam que a cirurgia era de grande risco. Conversavam bastante com minha mãe e parentes, para explicar quão delicado era o caso. E falavam que a cirurgia que eu iria fazer, na qual seria colocada uma prótese mecânica em minha aorta, era comum em pessoas mais velhas - na época, eu tinha 16 anos de idade. Explicavam também, que eu iria tomar um anticoagulante para o resto da vida e que estaria em acompanhamento continuamente.
Nunca me esqueço da paciência do Dr. Gilson (que acompanhava mais de perto o meu caso). Ele é quem tolerava minhas reclamações pelas várias perguntas dos médicos; por estar internada e por não poder fazer nada fora do andar que estava. E certa tarde em que eu e Daniela (uma colega que tive nesse período) ficamos na recepção do 5º andar conversando com ele, enchendo a paciência dele? Quanta generosidade em nos ouvir! (risos)... Eu dizia na época, que iria fazer medicina e queria ser como ele, um médico super atencioso!
Estudaram muito o meu caso, é tanto que eu fiquei 16 dias internada para a cirurgia poder ser realizada. Os médicos procuraram um cirurgião bem especialista nesse tipo de cirurgia. O que a realizou, Dr. Sérgio Almeida, estava viajando e a equipe que me acompanhava decidiu esperar ele retornar. Diziam que era melhor aguardar e fazer uma coisa bem feita, para evitar ou adiar o máximo possível, outra cirurgia mais pra frente.
Lembro-me como se fosse hoje, que a equipe de cirurgiões foi no quarto em que eu estava um dia antes conversar comigo e com minha mãe e o Dr. Sérgio disse: Vai dar tudo certo, ta bom? Será um sucesso como foi a primeira!
A minha mãe me falou depois, que no “grande dia” de vez em quando ia alguém da equipe dizer a ela como tudo estava ocorrendo. Quando o procedimento foi encerrado, o cirurgião foi todo contente dizer que havia acabado a cirurgia e que no dia seguinte eu poderia receber visitas. Entrei no centro cirúrgico às 11h e totalizou-se 13 horas de cirurgia. No período em que fiquei na REC I eu recebi visita da equipe de cirurgiões duas vezes, eles foram saber como eu estava me sentindo. A minha mãe também disse que quando ia me ver na REC e encontrava o Dr. Cristiano - que na época também era um dos residentes da equipe que me acompanhava - pelos corredores, ele perguntava como eu estava. Quatro dias depois eu fui para a REC II, fiquei lá um dia e quem foi me dar a noticia que no seguinte eu retornaria para o quarto no 5ºandar, foi ele. Pois o Dr. Gilson já estava trabalhando em outro andar
A Dra. Nana, que era a médica responsável pelos pacientes congênitos do 5º andar, teve forte influência em meu quadro clínico, eu soube que ela foi assistir à minha cirurgia. E lembro-me que qualquer coisa que me acontecia ela vinha conversar comigo, procurou resolver todos os problemas e evitava de todas as maneiras possíveis, me ver nervosa ou com receio de algo.
Um dia antes de receber alta, minha mãe encontrou o Dr. Gilson no corredor do hospital, disse que eu iria sair e ele foi despedir-se de mim. Há coisas que nunca nos esquecemos!... A cada um deles, devo toda a minha gratidão e respeito!
Quantas vezes depois de minha alta não encontrei alguns deles nos corredores e calçada do InCor e paravam pra conversar, saber como eu estava? Era extremamente perceptível a felicidade deles ao ver-me bem.
No mês de Março deste ano completou dez anos a cirurgia e quero parabenizar a todos esses médicos por vossa dedicação e pela união que vocês têm, é a maior prova de humanidade que podem demonstrar à nossa sociedade.
Não tenho queixa alguma contra os médicos que trataram e ainda tratam de mim!
Na última consulta de rotina que eu fui, em Abril/13, a Dra. Ximena que me consultou, também foi muito prestativa. Muito feliz, disse que tinha uma notícia boa pra dar a mim e falou que de acordo com a ultima tomografia que eu havia feito, a minha aorta estava bonitinha, do tamanho ideal. A gente percebe nitidamente, a alegria dos médicos em poder dar uma boa notícia a um paciente e que a evolução significa muito para eles.
Não acredito que os estudantes de Medicina necessitam de uma formação melhor. Se eles não querem trabalhar no SUS e no PSF, é porque as condições de trabalho ofertadas a eles não são suficientemente boas e não vai ser obrigando-os a estarem lá, que teremos melhores profissionais. Como prever que jovens que nem entraram na Faculdade de Medicina serão desumanos? Se nem os de hoje o são. Defendo profissionais dessa área não apenas pelo que vejo, mas pelo que vivi e recebi deles!

Nenhum comentário:

Postar um comentário